CLÉO E O MAPINGUARI
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Cléo tinha um segredo.
Um segredo do qual ninguém sabia. Nem seus pais, nem seus amigos da escola. Um segredo que era só dela. Cléo tinha um rabo de jacaré. Aparecera do nada. Um belo dia, ela acordou e viu que um rabo verde e bem cascudo havia crescido em suas costas. Sem saber o que fazer com ele, Cléo passou a escondê-lo. Todo dia, antes de sair para a escola, ela o prendia com um barbante e vestia uma saia comprida, para que ninguém pudesse ver. Cléo morria de vergonha do seu rabo de jacaré. Cléo tornara-se uma menina solitária. Seu lugar preferido agora era um parque que ficava perto da sua casa. Ela se sentia bem lá. Passava as tardes estudando e descansando, embaixo de uma árvore, longe dos olhos do mundo. Um dia, porém, Cléo descobriu que não estava tão sozinha quanto pensava. Aconteceu numa tarde dessas de verão. Cléo estava lendo um livro e comendo um lanche, sentada embaixo de sua árvore predileta. Distraída como sempre, nem viu quando uma mão peluda e astuta agarrou seu sanduíche. Só percebeu quando foi morder o lanche e viu que ele não estava mais lá. Nessa mesma hora, Cléo sentiu a árvore se mexer e migalhas de pão caíram no chão. Olhou para cima e protestou: — Ei, você roubou meu lanche! Lá de cima, respondeu uma voz fininha, meio chorosa, como se fosse a de um menino: — Me desculpa? Eu estava com fome... Cléo se aproximou devagarinho, para tentar enxergar melhor. E viu, no meio da folhagem, uma criatura enorme, toda peluda. Lembrava um bicho-preguiça gigante. E sua aparência era assustadora. — Meu nome é Pingo — ele disse. — Você é uma cuca? Cléo não respondeu. Saiu correndo, morta de medo. Mas a pergunta ficou ecoando na cabeça. “Será que eu sou uma cuca?”, ela pensou. “Mas... o que é uma cuca?!” Ao chegar em casa, ela tentou descobrir: — Mãe, o que é uma cuca? — É uma bruxa que rouba criancinhas — a mãe respondeu. Naquela noite, Cléo não dormiu. No dia seguinte, Cléo decidiu voltar ao parque. Estava com medo, mas também muito intrigada. Queria saber mais sobre cucas e bruxas. E só aquela estranha criatura podia lhe dizer. Ela chegou com um sanduíche para Pingo. Ao oferecer o lanche, um braço longo e peludo saiu do meio das folhas, agarrou a menina e a puxou até um galho. Ali, Cléo pôde ver Pingo de perto, pela primeira vez. Era monstruoso, mas, curiosamente, não metia medo. Pelo contrário: parecia tão triste que até dava pena. Começaram a conversar. Cléo fez muitas perguntas a Pingo, mas ele não sabia muita coisa sobre cucas. Disse que havia conhecido algumas, mas nenhuma lhe parecera tão má a ponto de roubar criancinhas. A certa altura da conversa, a menina tomou coragem e perguntou: — E você, o que é? — Eu sou um mapinguari — respondeu Pingo. — Vivo na floresta com a minha família. Nosso trabalho é proteger a mata contra os caçadores. — Que bacana! — disse Cléo. — Mas, se você é da floresta, o que está fazendo na cidade? — Fui pescar no rio e me perdi. Acabei vindo parar aqui. Agora quero voltar para a minha casa, mas eu não sei como... — É só pegar o caminho por onde você veio, seu bobo! — Eu tenho medo dos monstros... — Que monstros?! — Esses de lata, que correm pela rua soltando fumaça preta. Cléo achou graça e quis rir, mas percebeu que Pingo estava realmente assustado com os carros. Então, falou: — Pois eu vou te ajudar a voltar para a floresta! Pela primeira vez, ela viu Pingo sorrir. (texto completo no livro) |